Contos do Bambu's I

Cerveja, cigarros, truco, amigos e poesias. Tudo isso na madrugada de uma segunda-feira fria de setembro. Junte tudo isso e o resultado é:

Contos do Bambu's

Analize
por Maria Tellechea

Puxou o cordão da luz e a sala iluminou-se.Tudo o que ele via eram caixas. Perguntou-se qual foi o momento de sua vida em que decidiu ser um analista. Sentia-se um analista. Pois o conteúdo de todas aquelas caixas eram cadáveres. Um corredor cheio deles. Todos ali, feito um parque de diversões feto para um examinador de defuntos, um legista, como ele. Abrir corpos não lhe dava nojo, lhe dava prazer. Todos os dias, variações de pessoas mortas, das mais variadas doenças, dos mais variados acidentes. O que mais gostava de fazer, era imaginar quem aquelas pessoas tinham sido em vida, e especular o que havia acontecido para ali chegarem naquela estado. Já tinha aberto o corpo de uma rainha, bela e poderosa, que depois deum passeio de carro mortal ali foi parar. Conheceu também um assassino, que provou de seu próprio veneno. Um pai de família, que pelas drogas destruiu seu corpo. Viu também um menina que gostava de brincar de bonecas, maltratada pelo padrasto, teve sua vida interrompida muito cedo. Viu tantas pessoas, tantas histórias, que começou a pensar na sua. Quem ele era, o que ele viveu, o que ele viveria, como morreria? Estaria ele em uma daquelas caixas? Em quanto tempo? De que forma? Inteiro, em pedaços? Especulariam sobre a vida dele também?
Puxou a primeira gaveta, abriu o saco preto de plástico e viu: uma loira, com seus 20 e poucos anos, bonita, tão jovem. Olhou no rosto da moça e perguntou:
- Quem é você?

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