atos tácitos

O sol brilha. Não é com a mesma intensidade nem o mesmo calor. Mas ele brilha. Alguém o vê radiante, eu o vejo simples.

Sorrio, mas não é com o prazer de sempre. É desvirtuado. O que antes me satisfazia agora não mais me realiza, pois minha cabeça se encontra inquieta.

Pego-me encarando a parede, contemplando as cores, os desenhos, a textura. Passam-se minutos e me pego fazendo a mesma coisa. Nada.

À noite, demoro a pegar no sono, pensando, lembrando, refletindo. Meus sonhos não são mais os mesmos, antes claros e calmos, agora abstratos e instantâneos. E no abrir dos olhos ao acordar, as pálpebras pesadas e húmidas do sono te desenham na minha frente, me fazendo pensar que ainda sonho. E quando finalmente os abro, e percebo onde estou e no que me tornei, o peso recai sobre minhas costas, trazendo consigo a angústia e a afadiga.

Quero uma capa da invisibilidade, um tapete voador e uma lâmpada mágica.



Se escrevo o que sinto é porque assim diminuo a febre de sentir. O que confesso não tem importância, pois nada tem importância. Faço paisagens com o que sinto.

Fernando Pessoa

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